quinta-feira, 7 de maio de 2009

PADRE ZEZINHO, Parte II
IGREJA NOVA - Na década de 70, a juventude participava de Encontros e Grupos de jovens ao som de suas músicas e buscando orientação em seus livros. Onde anda hoje o autor de "Jesus Cristo meu amigo" e "Diga ao mundo que sou jovem" ?
Pe. ZEZINHO - Amadureceu, tem uma visão muito mais eclesial e aberta, tornou-se muito mais ecumênico e, por isso, mais católico e tornou-se muito mais preocupado com o social, com o político e por isso, também, muito mais espiritual, porque é impossível dissociar um do outro. Eu acho que Deus me deu a graça de ver mais sofrimento, de sofrer mais e de conhecer pessoas santas e isso me amadureceu. Hoje, eu não falo com tanto imperativo, mas eu falo com maior ternura e com maior, certeza por isso que hoje a minha canção de sucesso começa com um piedoso desejo: "QUE NENHUMA FAMíLIA COMECE" ... Eu deixei de lado a imposição moralista, risquei com um piedoso desejo porque a igreja não impõe, a igreja propõe.
IN - O sr, acha que essa proliferação de religiosos cantores hoje, veio para ficar ou é apenas um modismo que, se passar, deixará a igreja mais vazia?
P.Z. - Eu não arrisco a emitir um julgamento agora porque é muito cedo. Eu precise no mínimo de 10 anos para provar á Igreja porque é que eu tinha vindo. Só depois de 10 anos cantando é que a Igreja começou a ver o valor do meu trabalho. Eu era muito pichado no começo. Eu acho que esses padres novos que estão vindo, eles precisam de oportunidade e do direito de amadurecer o trabalho deles. Creio que daqui a 10 anos poderemos emitir um julgamento de valor sobre o que eles estão fazendo. Mas eu acho que eles trouxeram uma visão nova para a pastoral na Igreja e eu olho com carinho e, quando há algum desvio, alguma coisa que vai contra a catequese e a pastoral da igreja, eu telefono e falo pessoalmente com eles. Mas, como um todo, eu acho que eles são jovens e tém o direito de acertar e de errar. A gente nunca saberá se eles acertaram, se não tiverem o direito de falar. Eu acho que é melhor tê-los do que não tê-los. E muitos deles são de profundidade muito grande e, pelo menos 11 dos padres cantores que eu conheço são doutores em alguma matéria, isso quer dizer que tém bastante cultura. Um ou outro tem menos cultura mas tem muita boa vontade. Então, vamos dar tempo ao tempo para ver no que vai desembocar isso. Como um todo eu acho que é altamente positivo. Eu não vejo isso como modismo.
IN - O que significa Dom Helder em sua vida religiosa?
P.Z. - Modelo de simplicidade, modelo de coragem, modelo de profecia. Homem que nunca se calou e sabia ser severo e meigo ao mesmo tempo, exigente e fraterno, que soube unir a coragem de denunciar com a ternura de anunciar. Eu acho que ele encarnou perfeitamente a palavra "fraternura". Se essa palavra entrar no dicionário, o verbete devia ser: COMPORTAMENTO IGUAL AO DE DOM HELDER CÂMARA. Um homem que foi fraterno, teve ternura mas foi exigente quando foi preciso. Enfim, um homem que corresponde plenamente a canção que eu fiz "Fortes na Fé" e a uma outra canção que eu escrevi "Sereno e Forte". Ele foi isso: um santo sereno e forte num fim de século. é um mártir porque a vida dele foi um martírio permanente, mas um sorriso no rosto o tempo todo. Se eu fosse papa provavelmente, em um ou dois anos, o canonizaria. Talvez em menos tempo.
IN - Agradecendo a sua atenção e gentileza, a gente pediria que deixasse uma mensagem, sobre o novo milênio, para os leitores do IGREJA NOVA.
P. Z. - O novo milênio vai nos encontrar fazendo o que sempre fizemos: sinais! Temos uma caminhada. Ela deve continuar no novo milênio. Os que não tém caminhada nenhuma, é que devem por o pé na estrada porque certamente vai ser um milênio de muitas opiniões, muitas idéias, muito conflito, muita crise e sobretudo de muita luta do social e do político, contra o religioso. E, se as religiões não tiverem coragem, o novo milênio vai ser muito desumano. Se as religiões tomarem juízo e tomarem coragem elas vão determinar o rumo do novo milênio. Se alguém pode dar direção é humanidade parece que são as religiões. Se elas deixarem de lado o fanatismo, porque os partidos políticos perderam o rumo e os modelos sócio-políticos e econômicos falharam todos.E, se as igrejas falharem, então não vai haver esperança para mais ninguém. Eu espero que as igrejas aprendam a repartir o pão no mesmo altar e parem de se agredir umas és outras porque talvez a esperança do terceiro milênio seja as igrejas cuidando dos pobres, porque os governos, parece, que não conseguiram. Isso serve para a América Latina.
IN - Obrigado!

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